É hora de seguirmos em frente!

Fomos para a rua contra o aumento;

Fomos para a rua contra a PEC-37;

Fomos para a rua contra a FIFA;

Fomos para a rua contra a “cura gay”;

Fomos para a rua contra o Estado não laico que se esboça;

Fomos para a rua contra a mídia alienante;

Fomos para a rua contra a inflação;

Fomos para a rua contra a violência dos bandidos e da policia;

Fomos para a rua contra a baixa qualidade dos serviços públicos;

Fomos para a rua contra o alto imposto;

Fomos para a rua contra o atual nível da educação;

Fomos para a rua contra os benefícios exorbitantes dos políticos;

Fomos para a rua contra os “fichas sujas”;

Fomos para a rua contra a corrupção;

Fomos para a rua contra o falso desenvolvimento econômico-social;

Fomos para a rua contra a oposição;

Fomos para a rua contra o governo;

Fomos para a rua contra o status quo!

Paramos as principais cidades do país, chamamos a atenção, mostramos aos “donos das canetas” nossa indignação e força. Nós, os baderneiros, fizemos prefeitos e governadores tremerem em seus gabinetes luxuosos, os fizemos engolirem suas soberbas do modo mais amargo, contudo, já é hora de darmos um novo passo. Não podemos correr o risco de sermos fagocitados pelo próprio movimento que criamos. Temos de inserir na pauta do dia os temas que desejamos, como sociedade, debater, pauta essa que seja realista e que possa, de fato, produzir resultados satisfatórios. Hoje vi um desfile, não uma manifestação. Cidadãos indo e vindo observados, à distância, pela PM, enquanto a cidade retomava sua rotina. Não há mais a necessidade de desfilarmos garbosos, envoltos na bandeira, com as faces pintadas, com cartazes em punho, bradando frases de efeito e palavras de ordem. Essa mensagem já foi dada e deu mostras de que surtirá efeito, se e somente se os pressionarmos dentro das casas legislativas e executivas para que votem e façam o que é melhor para o povo, não para suas famílias, seus amigos e suas legendas.

Eduardo Candido Gomes

O que vi da crise…

Treze de junho, dezenove horas e quarenta e sete minutos. Esse foi o momento em que deixei minhas convicções guardadas em uma pequena gaveta dentro de mim, me despi de qualquer preconceito social, politico e cultural que pudesse ter e sai às ruas da cidade onde nasci e que tanto admiro, para, sem intermediários, analisar de maneira pura e com base, tão somente, em meus próprios olhos, o confronto que a pouco mais de uma semana se desenvolve em diversos pontos do município. Senti o cheiro do conflito, o gosto da adrenalina, o som das bombas, a visão do ódio e como pessoas que defendem a mesma causa seguem, conscientemente ou não, caminhos tão distintos. Não sou inocente ao ponto de achar que, em uma manifestação que desloca a quantidade de pessoas que caminharam pelo centro de São Paulo hoje, não haverá arruaceiros, anarquistas que querem ver o mundo em chamas; sim, eles existem; sim, os vi depredando bens públicos e privados e minando a tentativa de muitos que ali exigem melhorias importantes para o coletivo; sim, são poucos. A verdade é que ainda não digeri o movimento, ao ponto de recuar para enxergar o todo e, dessa forma, encontrar meios que possam localizá-los, enquanto se mesclam aos pacifistas inconformados, e puni-los. Vi também que a ação da policia é ineficaz e autoritária, iniciando, em muitos casos, o ataque que, de imediato, é revidado pela população com os meios que encontram disponíveis nas vias. As pessoas, integrantes ou não da manifestação, são presas arbitrariamente, são agredidas depois de imobilizadas, sem que esbocem qualquer tipo de reação, são acuadas com bombas de efeito moral, gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha. O clima entre os “combatentes” era de vitória, por conta das conquistas obtidas pelos cidadãos de outros estados da federação; a sensação era de que os governos, municipal e estadual, serão derrotados mais cedo ou mais tarde. Fiquei, pois, com a percepção de que algo ainda pior acontecerá durante os próximos conflitos, quiçá baixas definitivas de ambos os lados.

Eduardo Candido Gomes

“Maraca” Sitiado

Esse “pequeno” entrave com a liberação do Maracanã nos mostra o que já sabemos, de longa data, mas que varremos para baixo da poeira que já está sob o tapete: temos baixíssima qualidade de gestão e capacidade de planejamento muito precária, ou não; pergunto-me sempre, obviamente de forma retórica, quem se beneficia do não cumprimento de tais “formalidades inconvenientes”. Sabemos. Assim como sabemos o modo com que o problema será solucionado – quando eu estava no Fundamental, lá pelos idos dos anos 90, tínhamos, durante as aulas de português, que conjugar verbos, decorar tempos verbais e essa bobagem toda. Hei de dizer que esse é o verbo mais praticado do país e em homenagem a “Tia Marlene”, que Deus a tenha, pois já deve ter partido dessa para outra com o ordenado de professora primária que recebia, conjugá-lo-ei: “Eu molho, Tu molhas, Ele molha, Nós molhamos, …,” e por ai vai! – Com as mãos, sim, as duas, devidamente encharcadas, faremos vistas grossas ao grosso serviço prestado, dando significado moderno à gasta, porém nunca fora de moda, expressão “Para inglês ver” o que nesse caso específico faz muito mais sentindo. Já estamos vacinados e situações semelhantes não nos chocam; certa vergonha nos dá, estou certo…, não? Nada de vergonha na cara? Se Lula ocupasse oficialmente o cargo que ainda representa diria: “Nunca na História desse país!”. É claro que nunca, e sabem por qual razão? Oras, somos o Brasil, o tal Gigante Adormecido, aquele com o Povo mais bonito, com o Futebol mais vistoso, com os Políticos mais pilantras, é quero dizer… acho que vão me pagar uma cota menor dessa vez.

Eduardo Candido Gomes

* Texto modificado de sua versão original; veja o conteúdo completo em http://eduardocandidogomes.tumblr.com/

O Triste fim de um solitário

… a barba está por fazer, o creme dental permanece aberto sobre a pia, a água corre, a agulha arranha o disco já terminado, formigas se deleitam reunidas sobre sobras de pão, o tabaco ainda se retorce; sobre o piano um copo de Gin, parcialmente sorvido, partituras, fotos, algumas, já descoloridas, que emergem sorrisos esquecidos. As horas se arrastam, o sol rompe a escuridão através de frestas da antiga janela, iluminando o lado esquerdo do corpo, nu, acariciado pelo tapete…

Eduardo Candido Gomes

Noites Libertárias

Vivemos pelas noites libertárias de excessos incertos em busca de flertes, bocas e mãos inconsequentes, cujas ações são responsáveis por ardências inexplicáveis e por intensas paixões que duram uma música. Corpos torneados se insinuam, seduzem, revelam intimidades, regados a Veuve Clicquot! A dois passos do auge, sobre a pia, há parte da viagem não consumida; contíguo está o jeans da moda, o Ferragamo, o Rolex, o que sobrou de “um alguém” e suas alucinações, mesclados à urina, a escarros, a marcas que se perdem por entre os pés afoitos que ali transitam e pelos dedos que caçoam do infeliz derrotado por seus limites. Os amigos, também alterados, ainda desfrutam de sua comanda ilimitada. A luz surge e dá-se a hora de recolher os cacos dos menos resistentes. A noite regada a “sexo”, drogas, e nem sempre rock’n’roll chega ao fim e contamos os dias pela próxima aventura. Nós, os jovens, estamos sempre famintos por mais diversão.

Eduardo Candido Gomes