Arquivo do mês: fevereiro 2013

Lamentável!

Kevin Douglas Beltran Espada

Kevin Douglas Beltran Espada

Você tem 14 anos e nutre uma paixão muito forte por algo, digamos que seja um esporte, apenas a titulo de ilustração, digamos que esse esporte seja o futebol; o clube que lhe encanta por suas cores, por suas tradições, por seus jogadores vai a campo para disputar uma partida, contudo não é uma partida qualquer, mas a de estreia no torneio internacional mais importante do continente, contra o atual campeão desse mesmo torneio. Nessa fase da vida, tudo ainda é mágico, você não está preocupado com corrupção, com lavagem de dinheiro, com resultados arranjados, com interesses outros há muito presentes nos bastidores dos esportes de alto rendimento, você deseja apenas ver a grama verde, o vento acariciando o tecido da bandeira de escanteio, o aquecimento dos atletas, a movimentação em campo, a bola rolar, …, e imaginar que seu nome um dia será bradado pela torcida, que hoje você integra, após gols de placa sonhados em finais de campeonato.

Bem, você implora, suplica, diz que será um bom aluno, que lavará a louça durante todo ano, que levará o cachorro para passear sem que tenham de lhe pedir, que não brigará mais com sua irmã por conta da televisão, …, até que seu pai, diante de tanta insistência e promessas, aceita levá-lo – existem poucas coisas que passam de pai para filho, uma delas é esse tipo de amor –.

Você sabe e sente que essa quarta-feira será deliciosa e inesquecível.

Chegam ao estádio!

Seu pai orgulhoso e emocionado mostra todo o ritual que envolve uma partida; vê o brilho em seus olhos, sua atenção a cada detalhe, sua satisfação e seu prazer por um sonho que saíra do abstrato para ser parte integrante de sua memória pré-adolescente.

O árbitro apita e a partida começa.

O time visitante assusta logo no começo do jogo, mas você continua encantado com aquela atmosfera, com aquela multidão cantando, com os repórteres, atrás dos gols, trabalhando, com os técnicos, em suas áreas especiais, orientando seus times, com os jogadores se deslocando em busca de brechas para chegar ao gol adversário, tudo isso ocorrendo simultaneamente, como magia pura; você reconhece seu ídolo em campo e cutuca seu pai para mostrá-lo, você está extasiado…

Os minutos avançam e no meio do concerto surge um clarão seguido de um estampido, de uma forte ardência e de sangue. Você se sente mal e cai. Começa a ficar confuso e vê que o medo substituiu a alegria presente nos olhos de seu pai. Você tenta permanecer acordado, mas dorme enquanto ele assiste, em choque, aos sonhos da juventude serem embalados por um caixão, sonhos agora desfigurados por alguém que nunca o viu, que não sabe seu nome, que não conhece suas preferências, mas que o teve como inimigo a ser odiado e aniquilado por amar outras cores.

Eu estou com vergonha de torcer pelo futebol!

Eduardo Candido Gomes