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O que vi da crise…

Treze de junho, dezenove horas e quarenta e sete minutos. Esse foi o momento em que deixei minhas convicções guardadas em uma pequena gaveta dentro de mim, me despi de qualquer preconceito social, politico e cultural que pudesse ter e sai às ruas da cidade onde nasci e que tanto admiro, para, sem intermediários, analisar de maneira pura e com base, tão somente, em meus próprios olhos, o confronto que a pouco mais de uma semana se desenvolve em diversos pontos do município. Senti o cheiro do conflito, o gosto da adrenalina, o som das bombas, a visão do ódio e como pessoas que defendem a mesma causa seguem, conscientemente ou não, caminhos tão distintos. Não sou inocente ao ponto de achar que, em uma manifestação que desloca a quantidade de pessoas que caminharam pelo centro de São Paulo hoje, não haverá arruaceiros, anarquistas que querem ver o mundo em chamas; sim, eles existem; sim, os vi depredando bens públicos e privados e minando a tentativa de muitos que ali exigem melhorias importantes para o coletivo; sim, são poucos. A verdade é que ainda não digeri o movimento, ao ponto de recuar para enxergar o todo e, dessa forma, encontrar meios que possam localizá-los, enquanto se mesclam aos pacifistas inconformados, e puni-los. Vi também que a ação da policia é ineficaz e autoritária, iniciando, em muitos casos, o ataque que, de imediato, é revidado pela população com os meios que encontram disponíveis nas vias. As pessoas, integrantes ou não da manifestação, são presas arbitrariamente, são agredidas depois de imobilizadas, sem que esbocem qualquer tipo de reação, são acuadas com bombas de efeito moral, gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha. O clima entre os “combatentes” era de vitória, por conta das conquistas obtidas pelos cidadãos de outros estados da federação; a sensação era de que os governos, municipal e estadual, serão derrotados mais cedo ou mais tarde. Fiquei, pois, com a percepção de que algo ainda pior acontecerá durante os próximos conflitos, quiçá baixas definitivas de ambos os lados.

Eduardo Candido Gomes