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A dança das legendas

Estamos a pouco mais de um ano das próximas eleições municipais, e a dança das coligações começa de modo frenético, através de manobras em busca de apoio para constituição de chapas que consigam conciliar os distintos interesses de cada legenda. Partidos nanicos veem nesse momento a chance de despontarem para cargos em secretarias de conveniência e no Legislativo, compondo a base, independentemente de questões ideológicas, dos principais nomes à disposição. A tarefa, até pouco tempo, era fácil, principalmente na cidade de São Paulo, cuja polarização limitava-se em PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) e PT (Partido dos Trabalhadores). O embate de ideias, de rumos e de planos de governo fazia com que os demais candidatos fossem meros coadjuvantes durante o processo. Hoje a questão mostra-se mais complexa, com o lançamento de novas agremiações e o desejo de partidos como o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), que parecia contentar-se em ser apenas situação, de passar a ocupar a cadeira principal do Executivo municipal, o DEM (Democratas) de recuperá-la e o PSD de mantê-la.

Enquanto algumas alas do PSDB paulista digladiam-se para escolher quem será o candidato da sigla à prefeitura, em meio à crise deflagrada na Assembleia Legislativa que atinge seu principal nome, Bruno Covas, e o ex-presidente Lula, que empurra goela abaixo a indicação autoritária de Fernando Haddad, atual ministro da Educação, apesar da resistência passiva de Marta Suplicy, que deseja a realização de prévias para que o partido escolha o nome a concorrer. O atual prefeito e presidente do PSD (Partido Social  Democrático) Gilberto Kassab mostra, ao apagar das luzes, suas garras, ao trazer para sua recém-criada legenda o nome de peso de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e atual presidente do Conselho Público Olímpico e do Conselho de Representantes para a Copa, que desde outubro de 2009 era filiado ao PMDB de Goiânia. 

Diante da dificuldade criada pelo governador Geraldo Alckimin em liberar o vice-governador Guilherme Afif Domingos para ser cabeça de chapa, o que afetaria a coligação PSDB-PSD, visto que o governador quer Covas como candidato principal, Kassab vislumbrou uma excelente oportunidade puxando para seu time um administrador hábil e experiente que havia sido esquecido nas prateleiras peemedebistas desde a escolha de Iris Rezende, à época, prefeito de Goiânia, como candidato ao governo de Goiás. Os planos do atual prefeito de São Paulo podem sofrer interferências caso o ex-governador José Serra, padrinho político de Kassab, decida sair como candidato tucano à prefeitura, fato pouco provável, visto que Serra acredita ainda na possibilidade de lutar pelo Palácio do Planalto em 2014.

O site do PSD divulgou uma nota na qual Meirelles expõe a satisfação por ingressar no partido: “É com satisfação que anuncio minha entrada no PSD. Agradeço a acolhida no PMDB, o maior partido do País, mas essa oportunidade de participar da formação de um grande partido nacional desde o seu início me estimula muito. É importante ressaltar que não se trata de um projeto eleitoral, mas de contribuir no debate e na formulação de políticas para sustentar e incrementar o nosso desenvolvimento”.

Segundo seu idealizador, o PSD nasceu para desenvolver um papel agregador na política nacional, colocando-se, desprovido de rótulos, como parceiro tanto do governo nacional, formado pelo PT, quanto do governo paulista, formado pelo PSDB. Esse fisiologismo poderia ser associado ao praticado pelo PMDB durante os últimos vinte e cinco anos, entretanto Kassab rebate essas acusações dizendo que seu papel é trazer boas ideias ao Executivo, apoiando-o nos projetos em que acredita, de acordo com entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo em março de 2011: “O PSD nasce independente”, asseverou Kassab. “Estaremos ao lado do governo federal em relação aos projetos que acreditamos que sejam melhores para o País. E estaremos contra os projetos que não acreditamos que sejam melhores para o País. Torcemos muito para que a presidenta Dilma faça um bom governo. É bom para o País.” Atualmente o PSD é composto, no Congresso Nacional, por cinquenta e dois deputados federais, terceira maior bancada da Câmara, e por dois senadores, dividindo com Psol e PCdoB, com dois membros cada, uma posição ainda discreta no Senado Federal.

Alguns ingredientes deverão ser adicionados à mistura, visto que Meirelles é bastante próximo a Lula, o que poderia entornar o caldo de Kassab quando do anúncio da possível candidatura do novo membro. A única certeza a partir de agora é que novidades serão desveladas nos próximos capítulos dessa novela que ainda está distante de ter fim.

 

Eduardo Candido Gomes