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Panelaço Tupiniquim

O 7 de setembro de 2011 tem o que é preciso para tornar-se um dia memorável, não por ser nossa data de independência política, visto que em termos econômicos ainda hoje somos colônia de várias metrópoles, todavia por ser o momento em que cidadãos, de diferentes gerações, romperam com a inércia do conformismo acomodado e levantaram-se, sem rótulos partidários ou institucionais, em busca do combate à corrupção, desastre cultural enraizado em distintos setores da sociedade e dominante nas esferas políticas da nação, razão de feridas cujas sangrias diuturnas direcionam recursos aos ralos privados da impunidade, lesando o erário público.

De modo semelhante ao realizado durante a primavera árabe, organizada através de redes sociais e que culminou com a derrocada de ditadores em países norte-africanos e do Oriente Médio, os brasileiros, em pelo menos dois estados, São Paulo, Minas Gerais, e no Distrito Federal, levaram às ruas mais de trinta mil pessoas, cobrando da Presidência, dos 38 ministros de Estado, dos 81 senadores da República, dos 513 deputados federais (…) maior seriedade e punição exemplar aos membros do funcionalismo que ultrapassam os limites da lei. Escândalos semelhantes aos mensalões petista e democrata, a absolvição inescrupulosa de Jaqueline Roriz, por meio de votos secretos, a volta ao Parlamento de figuras como Delcidio Amaral, Fernando Collor, Renan Calheiros, nomes frequentes em manchetes de desvios, expõem-nos que as causas do problema estão ocultas e precisam ser desveladas, e talvez as chaves que fecharão os caminhos degradantes do submundo político estejam em uma reforma política profunda e na educação.

Há, em meio à faxina, teoricamente proposta pelo Executivo, pontos delicados que precisam ser debatidos: qual o critério para que alguém seja indicado e posteriormente escolhido para ocupar cargos-chaves no governo? Como tantas figuras políticas selecionadas ao primeiro escalão do Executivo estão envolvidas em negociatas, desvios, lobbies, apadrinhamentos? É fato que a Presidência da República, aparentemente, não tem tolerado tais condutas antiéticas, entretanto o critério de escolha dos novos ocupantes das pastas continua o mesmo, e a sensação é de que a presidente Dilma enxuga gelo ao promover as substituições, exonerando aqueles cujos esquemas tornaram-se públicos, contudo alocando novos “piratas do estado” em suas cadeiras. A queda de cinco ministros em nove meses do governo, sendo quatro deles por razões de enriquecimento ilícito, desvio de verbas, contratos fraudulentos, pagamentos de serviços privados com recursos públicos, acende a luz vermelha de que sua manutenção resultará tão somente em novos casos de irregularidades.

Ao que parece, a população deu apenas o pontapé inicial ao basta que ressoou na mídia nacional, chegando ao gabinete presidencial no Palácio do Planalto, organizando-se, ainda nas redes sociais, para novas manifestações marcadas para 12 de outubro e, possivelmente, 15 de novembro, outra data significativa para a política brasileira.

 

Eduardo Candido Gomes